Repensando a cidade: jovens insatisfeitos

Dezembro de 2013

Não se pode vender ou comprar o direito de usar o espaço urbano

Muitas cidades brasileiras tiveram um momento muito marcante este ano: as manifestações de junho, que partiram de reivindicações para o transporte público, mas abrangeram um extenso leque de insatisfações com nossa política, ao clamar por melhores condições na saúde, educação e pela qualidade de vida em nossas cidades, com sua principal bandeira na temática da mobilidade urbana.
De forma geral, as políticas urbanas brasileiras são bem precárias. Nas últimas décadas, priorizaram-se estratégias de crescimento, criação de empregos e aumento de salários, pautadas em um desenvolvimento urbano mercantilista. As principais iniciativas relevantes ao urbanismo foram direcionadas à facilitação da ação do mercado, visando à expansão financeira.
O Brasil conseguiu reduzir muito o desemprego, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou e a economia cresceu, mas os brasileiros continuam insatisfeitos, sobretudo os jovens, que se destacaram nas ruas das maiores metrópoles do país.
Alguns questionariam que estes jovens seriam rebeldes sem causa, e que não sabem o que é ditadura e, tampouco, viveram o fantasma da inflação. Mas, aí, surgem perguntas: de que vale a democracia e liberdade de expressão se nossos anseios não são ouvidos? De que vale uma economia estável se gastamos milhões parados nos congestionamentos, se não temos médicos o bastante, se não temos um salário digno para os professores e se temos que ficar trancados em casa pela falta de segurança nas ruas? Comprar celular, televisão e carro é muito bacana, mas muitas coisas que são preciosas nós não temos e nem podemos comprar, pois não têm preço e não estão à venda, como o direito de usar a cidade.
A cidade é nossa
Para muitas pessoas, a cidade é simplesmente “uma coisa” que fica entre a casa e o trabalho, entre a casa dos parentes e dos amigos ou entre os shoppings e supermercados. Quando se fala do turismo em Belo Horizonte, não é raro ouvir belorizontinos falando que na capital não tem nada de interessante, e que não entende o que um turista poderia fazer aqui.
Mas será que Belo Horizonte é tão desinteressante assim? Ou será que nós fazemos um mal uso de nossa cidade e não percebemos suas qualidades? Será que as políticas públicas não desestimulam a usarmos BH de uma maneira saudável?
Não vamos esquecer o momento histórico que vivemos em junho deste ano. Em 2014, vamos torcer para que o Brasil ganhe a Copa, afinal, não vamos negar que somos o país do futebol, mas vamos torcer mesmo com muito mais energia para que surjam novos rumos. Ao invés de onze homens levantarem uma taça, milhões de brasileiros poderão viver dias melhores.