Projetos com personalidade

Ilustração cedida pelo arquiteto Fabrício Malaquias (Leão Lopes Arquitetura)

Dia 15 de dezembro comemoramos o Dia do Arquiteto, O Conselho de Arquitetura e Urbanismo vem tentando romper a visão de que arquitetura é um serviço consumido apenas por pessoas de alto poder aquisitivo.  Que tal enxergar esse profissional como uma pessoa acessível?

Nem todo projeto precisa de requinte, o que não pode faltar no desenho de arquitetura é a personalidade. Inclusive existem arquiteturas que esbanjam abundância mas pecam na originalidade. Um projeto sem personalidade é aquele que o cliente quer copiar a casa do seu amigo fulano, ou a mansão daquela atriz que saiu na revista.

Um projeto com personalidade é aquele que dá vitalidade e ânimo para quem participa dele. Não precisa ser uma obra faraônica, muito imponente ou luxuosa, pode ser simples, com baixo custo, mas tem que ter criatividade, tem que haver algum motivo para vibrar e comemorar, tem que ser a realização de um sonho. É claro que o projeto tem que expressar o perfil dos usuários dessa arquitetura, esse é o papel do arquiteto: interpretar os interesses e as vontades das pessoas e traduzir isso no espaço.

Uma pena é quando projetos assim não saem do papel, com o tempo o papel vai amarelando e aquele sonho vai ficando esquecido, é triste ver que um sonho caiu no esquecimento.

O objeto arquitetônico precisa ser vivenciado por pessoas, somente assim ele cumpre seu papel. A arquitetura é a ciência que estuda a coexistência das pessoas no espaço, ou seja, de nada vale um projeto engavetado, uma obra inacabada ou uma edificação abandonada.

Então, meu caro leitor, para transformar o seu espaço em um lugar mais acolhedor não precisa pedir para o ano novo: “muito dinheiro no bolso”. O principal é ter vontade de dar uma nova energia para a sua casa ou para o seu local de trabalho. Um bom profissional ajuda bastante, mas o primeiro passo é seu, lembre-se disso. 

Não se inspire muito em projetos “brilhosos e reluzentes”, eles passam a impressão de serem bons projetos, mas muitas vezes não passam de espaços que escondem as nossas verdades, as nossas emoções, que incentivam a impessoalidade, a distorção do foco, o consumismo, o desligamento do mundo à nossa volta.

Manda pra gente um exemplo de um espaço singular que você conhece! Quem sabe ele não vira uma história aqui no Jornal?


Construções e reformas: Conheça o trabalho do arquiteto

Dezembro de 2016 


Para muitas pessoas, construir ou reformar sua casa ou apartamento é um sonho, para outras é uma grande dor de cabeça. Este segundo grupo às vezes evita ao máximo mexer com obras, o que pode até prejudicar a integridade de seu imóvel, caso hajam algumas manutenções necessárias que não são aconselháveis de se postergar. Trincas, vazamentos, deterioração da pintura ou do reboco, telhados com estrutura apodrecendo, telhas quebradas ou deslocadas, impermeabilizações degradadas etc. Enfim há uma série de desgastes na edificação que se forem negligenciados podem, com o tempo, aumentar exponencialmente os prejuízos.

Uma boa alternativa, tanto para quem constrói quanto para quem reforma, é a contratação de profissionais habilitados para lidar tanto na etapa de projeto quanto na etapa de execução de obra. Muitas pessoas evitam contratar um perito competente pois acreditam que seria um custo a mais que pode ser poupado, mas em muitos casos um bom profissional pode reduzir os custos e ainda aumentar a durabilidade da edificação, ou seja, o investimento tem retorno.

 O arquiteto é aquele profissional que tem uma visão sobre a edificação como um todo, no seu trabalho utiliza de conhecimentos que irão contribuir para que os espaços tenham funcionalidade e sejam bem aproveitados.  O projeto arquitetônico contempla o conforto nas atividades que os usuários desenvolverão em cada ambiente, pensando sempre nas dimensões adequadas de circulação, nas alternativas apropriadas de ventilação, iluminação e etc. O arquiteto, além de pensar essas soluções técnicas, trabalha questões de estética e de valorização dos espaços e das perspectivas da edificação. Os materiais escolhidos, além de cumprirem uma função de revestir e proteger a edificação, permitem maior durabilidade e comodidade aos habitantes, e possibilita ainda o equilíbrio e elegância do objeto arquitetônico.

 Já os projetos complementares (que também são realizados por arquitetos e a engenharia compartilha dessa atribuição), dão suporte aos aspectos essencialmente técnicos da edificação, geralmente os clientes não opinam muito sobre as decisões estruturais ou sobre as especificidades das instalações (elétricas, hidráulicas e etc). Mesmo o cliente contratando diretamente profissionais de engenharia, é mais cômodo deixar que o arquiteto guie o processo dos projetos complementares, inclusive para que a estrutura e as instalações não desconfigurem a arquitetura que foi solucionada anteriormente. Contratar um arquiteto como gestor de uma obra, apesar de ser aconselhável, naturalmente não é obrigatório, esse serviço apenas trará mais tranquilidade principalmente àquelas pessoas que têm dificuldades em enfrentar uma obra ou simplesmente não têm tempo ou aptidão para lidar com pedreiros, bombeiros, eletricistas e etc.

O serviço de arquitetura não é tão utilizado quanto o de outros profissionais liberais, como médico ou dentista, por isso também há menos conhecimento sobre suas formas de atuação. Existem serviços e projetos de arquitetura mais simples ou mais complexos, esse grau de complexidade irá interferir naturalmente nos custos de cada trabalho. Mas é importante se ter em mente que da mesma forma que se pensa em um dentista quando se tem uma dor de dente o profissional que deve ser lembrado quando se tratar do espaço edificado é o arquiteto. Além de otimizar as soluções e reduzir custos, o profissional em arquitetura pode ajudá-lo a planejar a realização de obras em etapas ajustando ao seu orçamento disponível. Há ganhos intangíveis como a qualidade, conforto e beleza do espaço que podem ser traduzidos em algo mensurável, como a valorização do imóvel ou a durabilidade das soluções.

O diploma de arquiteto permite uma formação única que o habilita a unir técnica, criatividade, funcionalidade e estética, deixando o seu imóvel mais agradável, ambientalmente sustentável e adequado às suas necessidades e ao seu orçamento.


Esse texto é uma singela reverência a todos os colegas que celebram no dia 15 de dezembro o Dia do Arquiteto e Urbanista.

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Qualidade de vida: um equilíbrio entre trabalho, consumo e necessidades humanas

Outubro de 2016


Estudiosos relatam que após a Revolução Industrial houve uma reestruturação social e nos costumes modernos. O surgimento de tecnologias de comunicação e transporte se justificaram como uma nova necessidade moderna de otimizar o tempo, mas geralmente o tempo ganho em certas atividades acaba sendo substituído por outros afazeres. Assim o homem moderno está frequentemente ocupado, independente do avanço das velocidades que a tecnologia proporciona.

Desde então a atividade humana que recebe maior importância é o trabalho, um forte indício é quando se pergunta a um adulto sobre o que ele faz da vida, usualmente sua resposta é a identificação de sua atividade laboral. Mas cientistas sociais dizem que no fundo todo trabalhador vive um conflito, pois ao mesmo tempo em que assume a importância do trabalho deseja o repouso de suas tarefas para usufruir um tempo para si. Se tempo é dinheiro, há uma tendência de se substituir o tempo livre pelo consumo, pois visto como uma perda de tempo, o ócio aparentemente pode ser menos vantajoso que a oportunidade de fazer compras ou de gastar com experiências agradáveis para si.

O esforço de ganhar dinheiro através do trabalho acaba sendo compensado por aquisições que irão minimizar o cotidiano desgastante. Assim se compra carros confortáveis para se deslocar, casas bonitas e agradáveis para aproveitar o pouco tempo que se passa na residência, além de outras formas de consumo que transmitem a sensação de bem estar cotidiano, como vestir-se bem e cuidar da aparência. Outra forma de recompensar o trabalho é através do consumo de experiências prazerosas como ir a restaurantes, cinemas ou viajando.

O que acabo de descrever são situações comuns aos cidadãos urbanos, e àqueles que não estão de bem com sua qualidade de vida precisam respirar fundo, meio à correria moderna, para refletir. O trabalho e o consumo não devem atingir um ciclo vicioso, em que as pessoas se desgastam muito para poderem consumir aquilo que não é essencial. E aquelas pessoas que não trabalham intensamente, mas também não passam necessidades, não devem se afligir tanto pela tentação de poderem consumir mais, o ideal é achar um ponto de equilíbrio entre suas condições financeiras e um cotidiano agradável.

A verdade é que a felicidade genuína está no ponto de equilíbrio, um grande exemplo pode ser extraído de estudos populacionais. A Dinamarca, considerado o país mais feliz do mundo, apesar de estar longe de ser o país mais rico ou o que tem os padrões mais elevados de consumo, consegue proporcionar uma qualidade de vida diferenciada para seus cidadãos.


Como urbanista, não posso deixar de lembrar que a Dinamarca investe muito na qualidade de seus espaços públicos, que juntamente com jornadas de trabalho reduzidas, estimulam os habitantes a usufruírem das opções de lazer gratuito e maior tempo livre para a família e amigos. O ócio e lazer são necessidades humanas, não podem ser substituídas pelo consumo, e o trabalho também é importante, mas não pode ser alienante a ponto de repercutir na saúde e qualidade de vida das pessoas.

Salsichas Urbanas

Novembro de 2014

Viadutos em Los Angeles (EUA) – O desenho de 
uma cidade pouco compatível com a escala humana


"Viadutos representam o caminho mais curto entre dois pontos congestionados", a frase replicada por vários especialistas, aponta o modelo equivocado que são as "carcities" (cidades do automóvel). O modelo desenvolvimentista estimulou a aquisição do automóvel, seu uso ostensivo e a criação de infraestrutura para "acomodá-lo". Hoje, nosso melhor exemplo equivocado é a cidade de Los Angeles, que consegue "engarrafar" milhares de carros nas suas generosas pistas com oito faixas por sentido de tráfego. 


Belo Horizonte não foi muito diferente e cedeu e ainda (infelizmente) vem cedendo a esse padrão. Porque? Porque ainda funciona, já que as pessoas compram seus carros, entusiasmadas, e têm a oportunidade de eventualmente circular livremente. Mas estamos realmente satisfeitos com essa realidade? Às vezes a nossa capacidade de avaliação é um pouco ineficiente, talvez fiquemos muito mais tempo presos dentro de nossos carros do que livres, mas acabamos considerando mais a parte boa. Acho que é como comer Cachorro Quente, há alguns anos atrás se dizia que "quem sabe como são feitas as salsichas, não tem mais coragem de comer", hoje a grande maioria das pessoas sabe que a salsicha tem uma composição duvidosa, mas é mais gostoso ignorar o fato e aproveitar as mordidas. Acredito que para interromper o consumo das salsichas seria necessário que os órgãos competentes a retirassem do mercado.

Então, sem o intuito de tirar os automóveis do mercado, eu vou contar a receita da salsicha urbana (sim, o seu carro, no caso, é uma salsicha): Há um lobby empresarial que depende da cultura do automóvel para sua perpetuação no mercado, a princípio não há nada de errado nisso, essa é lógica do capitalismo, empresas precisam de lucro. O modelo — que influencia nosso dia a dia, interfere no desenho desumano de nossas cidades e é responsável por milhares de mortes no trânsito e pela poluição do nosso ar — é sustentado por um tripé corporativo, que é composto pelas empresas que dependem da comercialização do petróleo, ou da indústria automobilística, ou das obras de infraestrutura rodoviária. E você bem achava que o automóvel era sinônimo de liberdade, não é?

Pode ser um pouco “indigesto” saber a composição da salsicha urbana, é possível até balançar alguns de seus amantes, mas não precisamos ser radicais e parar de consumi-la, talvez, assim como o cachorro quente, podemos dar prioridade para o consumo nos finais de semana, ou podemos aprender a dividir com o colega de trabalho. Assim a pressão alta da cidade agradeceria.